Muito se fala em gerenciamento de crise e gerenciamento de risco. Tem quem diga que é a mesma coisa. A verdade é que são completamente diferentes e, se um for bem feito, o outro nem vai precisar existir. Vamos entender as diferenças?
O QUE É GERENCIAMENTO DE RISCO?
Primeiro, vamos abordar o que é o Gerenciamento de Risco, afinal, ele deve vir primeiro. É a parte da prevenção e do planejamento. O controle dos acontecimentos antes que eles se tornem reais. Para que ele seja feito de maneira eficaz, deve começar por uma Checagem de Vulnerabilidades. Trata-se de uma auditoria profunda em todas as pontas da organização, buscando focos de problemas e sinais de alertas que podem se transformar em uma crise em algum momento. Estudiosos afirmam que 66% das crises poderiam ter sido evitadas caso esses alertas não fossem ignorados.
Para fazer uma boa Checagem de Vulnerabilidades, todos os setores da empresa devem ser envolvidos e conseguir respostas para a seguinte pergunta: o que pode dar errado no meu setor e desencadear uma crise com potencial de abalar a reputação da empresa?Aí é passar o pente fino, sempre pensando nos piores cenários.
Um dos erros mais comuns que algumas corporações cometem ao fazer essa checagem é se concentrar demais na parte operacional, por exemplo, em uma indústria. Claro que crises que envolvem acidentes chamam mais a atenção da sociedade e da mídia, com maior potencial de causar danos irreversíveis para a reputação e colocar em xeque o futuro.
Porém, não podemos esquecer que existem outros setores que também podem causar uma crise. Por exemplo, é preciso pensar no que fazer se um novo concorrente chegar no mercado, disputando o mesmo público e em melhores condições. E aí, como sair dessa? Em outro exemplo de antecipação de crise, o setor de logística precisa ter alternativas para o caso da falência do principal fornecedor, aquele que garante a matéria-prima fundamental para o produto que a empresa produz. Nunca se esqueçam que as crises vem por todos os lados.
Uma vez feita a Checagem de Vulnerabilidades, cabe aos líderes apontarem as soluções para as questões levantadas. Afinal, o Gerenciamento do Risco pensa no problema antes dele existir, de modo que não chegue a existir uma crise de fato. Se, citando o exemplo acima, eu tenho uma alternativa para fornecimento da minha principal matéria-prima, não preciso me preocupar com esse assunto. Se o fornecedor falir, vou acionar outra empresa antes mesmo do material faltar e criar uma crise. Isso é Gerenciamento de Risco.
O QUE É GERENCIAMENTO DE CRISE?
Porém, mesmo com um Gerenciamento de Risco bem feito e com um bom trabalho de antecipação dos problemas, não podemos evitar todas as crises. E é aí que entra o Gerenciamento de Crise, que é a contenção de danos, a ação imediata com a crise já instalada, trazendo a resposta da organização aos fatos e à opinião pública. É o que fazer depois que a barragem estourou, o avião caiu ou o funcionário agrediu uma idosa. E, repito, não é só de tragédias que falamos quando o assunto é crise. Vamos voltar no assunto da falência do fornecedor. Na minha Checagem de Vulnerabilidades eu constatei o excesso de dependência de um fornecedor. Os líderes agiram e conseguiram montar uma lista com o nome de outras dez empresas que podem fornecer o mesmo material. Gerenciamento de Risco bem feito, problema resolvido, certo? Nem sempre!
Como eu disse, mesmo com um bom planejamento de gerenciamento de crises, algumas crises não podem ser evitadas. Imagine que a principal matéria-prima dessa nossa empresa vem da China. E um vírus surgiu na cidade onde esse material é fabricado e toda a população foi colocada em rígida quarentena, interrompendo totalmente a produção. Nesse caso, mesmo com toda a antecipação do problema, não há o que fazer e essa crise não pode ser evitada. É o momento de entrar em ação o Gerenciamento de Crise, com as ações que serão tomadas nesse novo cenário. Parar a produção? Demitir funcionários? Buscar novas soluções tecnológicas? Investir em outros produtos? Como vamos comunicar isso para os funcionários e para a sociedade em geral? O que vai ser dito para a imprensa e para os acionistas?
Dando um exemplo real, Gerenciamento de Risco é a Vale saber que barragens a montante podem dar problema e monitorar a situação (ou determinar o fim delas). O Gerenciamento de Crise é a resposta da empresa após o rompimento em Brumadinho, com todas as ações que vieram na sequência da tragédia.
Delimitadas as diferenças entre os dois modelos, a conclusão é simples: um bom Gerenciamento de Riscos evita que seja necessário um Gerenciamento de Crise. Invista na antecipação dos problemas e na prevenção. É a melhor saída para evitar as grandes crises.

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